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Redação Bebidas e Afins
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Poucos consumidores no mundo desenvolveram tão bem a habilidade de criar novos e exóticos coquetéis, derivados de bebidas tradicionais, quanto o brasileiro. A velha cachaça cruzou fronteiras quando se transformou em caipirinha, com limão, açúcar e gelo. Aqui, a cerveja – sempre estupidamente gelada, diferentemente dos hábitos europeus – conquistou adeptos com a adição dos mais variados sabores, desde mel de abelhas, café e rapadura até essência de eucalipto. É nessa alquimia de sabores que a escocesa William Grant & Sons, maior produtora de uísque premium do mundo, quer conquistar mercado. “O brasileiro está nos ensinando um novo modo de saborear os mais refinados uísques, misturando de tudo um pouco”, disse com exclusividade à DINHERO a britânica Stella David, CEO da companhia. A declaração de Stella, tataraneta do fundador, William Grant, marca uma importante mudança de paradigma no reino dos destilados.
Nos últimos dois séculos, quem misturasse rodelas de pepino, limão ou guaraná à bebida ofendia pessoalmente os escoceses. “Uma prática dessas lá nos idos de 1887, ano em que começamos, seria considerada uma heresia”, afirma Stella. “Agora, já vemos esse hábito com bons olhos. E até achamos uma certa graça.” A mudança de conceito dos Grant tem uma explicação básica: as vendas da marca no Brasil nunca cresceram tanto como em 2010, com um aumento de 45% sobre o ano anterior. Puxado pelo desempenho no País, um dos dez maiores mercados do grupo, que está presente em 200 países, seu faturamento global atingiu 951,5 milhões de libras esterlinas (cerca de R$ 2,7 bilhões), resultado 14% acima do ano anterior, a despeito da crise europeia. “Graças aos brasileiros, tivemos um ano surpreendente em 2010 e ficamos muito empolgados”, disse a CEO. A expansão da Grant no País deverá ganhar novo impulso, a julgar pelos ambiciosos planos da companhia para o mercado local. Embora existam hoje 25 rótulos produzidos pela marca, apenas seis estão à disposição do consumidor brasileiro – quatro de uísque, um de rum e um de gim.
Em 2012, a ideia é chegar a 12 opções. “O glamour de apreciar uísque tem ganhado novas variações no Brasil, jeitos muito especiais para nós, acostumados à tradição da bebida pura”, afirma Stella. “É engraçado como vocês brasileiros bebem uísque, especialmente entre os jovens, porque colocam gelo, mexem os cubos com o dedo e, para sair da rotina, acrescentam sabores.” Para o sommelier do grupo Fasano, Manoel Beato “a prática de fazer coquetéis é bem-vinda, mas é bom destacar que a integridade da bebida pura também precisa ser apreciada pelos brasileiros”. Indiscutivelmente, o uísque no País ainda carrega o estereótipo de bebida para pessoas mais velhas, imagem que a Grant pretende mudar ao ampliar sua gama de opções. “Se a Grant realmente quiser popularizar seus destilados no mercado nacional precisará investir em produtos de qualidade, mais variedade de opções e, sobretudo, não medir esforços em ações promocionais junto aos jovens”, disse o consultor carioca Jayme Rodin Torres, especialista em tabaco e destilados. Esse esforço pôde ser observado, há pouco mais de dez anos, com os fabricantes de vodca. Hoje, a bebida russa já está incorporada aos hábitos brasileiros, e até ganhou espaço na concorrência com a cachaça, ao se transformar em caipirosca (caipirinha de vodca).
É por essa razão que, segundo Stella, a empresa preservará sua forma artesanal de conservar a bebida, que desde William Grant é envelhecida em centenários barris de carvalho, por 12 anos, no mínimo, mas fará campanhas específicas para seduzir os consumidores jovens. A tarefa, provavelmente, será árdua. Um estudo interno da Grant revelou que apenas 14% dos apreciadores de suas bebidas têm entre 18 e 25 anos no Brasil, percentual que deverá dobrar nos próximos dois anos. No País, quase 80% dos clientes têm mais de 45 anos (veja os resultados curiosos da pesquisa abaixo). “Uísque precisa ser envelhecido, sua imagem, não”, destaca a executiva. “Queremos que o jeitinho brasileiro de apreciar uísque nos ajude a virar o jogo.” Para que isso ocorra, no entanto, será preciso mais do que misturar frutas ao destilado. Uma garrafa do single malte mais vendido no mundo, o Glenfiddich, custa no Brasil em torno de R$ 250, muito mais caro do que a maior parte das bebidas concorrentes para a formulação de coquetéis.
Terceira principal marca no mercado global dos destilados, atrás das poderosas Johnnie Walker e Ballantine’s, respectivamente, a William Grant & Sons almeja ser a número 1 no mundo em até cinco anos. Para isso, o desafio é popularizar a bebida, nos mercados emergentes da América Latina e da China, onde começa a se tornar hábito beber uísque com chá-verde. “Queremos tornar mais acessível o uísque e conquistar novos apreciadores, sem deixar de lado o requinte e a sofisticação que envolvem um bom malte”, afirma Stella. Ela é uma das poucas mulheres a assumir um cargo de comando em um ambiente tradicionalmente masculino. “Quando o assunto é uísque, as mulheres estão ganhando destaque”, diz. “Na Rússia, elas já representam 49% dos consumidores. Quem sabe, esse índice no Brasil, que hoje não passa de 10%, também seja uma realidade daqui a alguns anos.”
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